• INÍCIO
  • EXPOSIÇÕES
    • Fragmentos de um discurso
    • Le temps
    • A Roda do Tempo – au fil du temps, Galeria Diferença, 2006
    • Memento 93 Rostos
    • A eloquência de um rosto
    • Faces da melancolia
    • Anatomia de um rosto
    • Autoretratos, Polaroïd
    • A mulher sem sombra
    • 50 Rostos
    • O meu quarto em Montrouge
    • Retratos de Poetas
  • FOTOGRAFIAS
    • Olhos nos Olhos
    • Buren
    • Moma
    • Ainda eu
    • Naturezas Mortas
    • Centre Beaubourg
  • VÍDEOS
  • UNIVERSIDADE
    • Dados
    • Qualificações
    • Formação
    • Docência
    • Publicações
    • Comunicações
    • Bolsas
  • CONTACTO
  • Menu Menu

Anatomia de um rosto

Galeria Luís Serpa, 2001 [Odisseia do tempo, Paris, 1996-2000]

Quem sou eu? Necessito fazer imagens, repetia eu a um amigo, perplexo. Quero captar um aspecto da realidade do meu rosto, fixá-la para permanecer eterna. Registar a minha imagem, transformá-la, revelá-la no papel. Como não tinha a máquina comigo, realizei o meu autoretrato na estação de metro mais próxima da minha casa de Montrouge, a estação Porte d´Orléans, numa máquina Photovision. Não me reconheci. Passei a repetir sempre que podia a minha imagem no mesmo local. A pouco e pouco, comecei a procurar outras estações de metro com a mesma Photovision. Mas a fotografia que a máquina vomitava não coincidia com a imagem que eu tinha de mim. Todos os dias voltava ao «local do crime». Todos os dias o mesmo sentimento. Pensei realizar este trabalho durante um longo tempo. Como se estudasse a anatomia do meu rosto.

A complexa relação entre imagem e realidade levava-me cada dia a perguntar onde estava o original (eu) e a imagem. Ao fazer o meu autoretrato na máquina Photovision, não me exibo como com a Polaroïd ou outras máquinas. Sento-me frente ao espelho, sempre à mesma altura, sem pretender ficar melhor ou pior. Como se fosse uma fotografia para um bilhete de identidade. Ou para um arquivo da polícia. Com o aparelho Photovision posso escolher a minha imagem no espelho, e, ao fazê-lo, não olho para o meu rosto, mas para os botões que vão contribuir à feitura da imagem. A luz, o enquadramento e a distância não são produzidos mecanicamente, de igual forma para todos os fotografados no «meu» local do crime. Como se o anónimo se viesse insinuar entre mim e mim.

O conjunto destas imagens tem um valor descritivo, narrativo, de memória e de tempo. Constitui um longo plano sequência realizado durante 8 anos, em diversas Photovision, na mesma cidade. Passei depois a realizar autoretratos com outras máquinas porque assim era eu quem escolhia a distância, a luz, o local. Mas estas, as das Photovision parisienses continuavam lá com a sua estranheza mecânica.

Imagem identidade? O eu especular que nos constrói e aliena? O autoretrato significa ausência, luto e morte. A nossa imagem no ecrã (ou no espelho) revela a morte. A morte está estampada no autoretrato. Sentimento de drama, de tristeza e de efémero. Quem somos nós? Uma máscara: rosto, caveira, pó. Imagens do nada. Vanitas! Vanitas!

O que nos resta de uma vida, do saber e do conhecimento?

«toute image photographique est limage dun défunt, la photographie dun lieu, celle dun lieu du crime, la photographie est la mort sans phrase, sans signification et rituel, sans promesse dimmortalité»

Roland Barthes

© 2025 | Maria José Palla | Website por LSLX LSLX-WEB
Scroll to top