Faces da melancolia
Galeria Diferença, Lisboa, 2001 [cor e preto & Branco]
Apresento nesta exposição duas séries executadas em minha casa em Montrouge correspondentes a experiências próximas na técnica, na encenação e na pose.
As fotos a preto e branco foram executadas em 1997 e as cores em 2001.
As máscaras foram executadas sem mise en scène. Digo máscara porque as fotos funcionam como imagens expressionistas. A sua dureza é compensada por vezes pela sobreposição de plásticos coloridos. Trata-se de uma abordagem diversa daquela que executo com a máquina Polaroïd. Aqui não enceno o corpo, não calculo a pose, a nem a maquilhagem, nem a distância. Não existe efeito de provocação.
Sempre desejei fotografar rostos. Assim do rosto dos outros passei ao meu próprio rosto. Estava à mão. Não necessitava de modelo: eu sou o meu objecto de representação, eu sou o meu próprio modelo, o meu rosto está colado a mim.
O autoretrato representa uma metamorfose, é uma híper imagem. Eu não desejo transformar-me noutro. Mas o outro inunde a película, alaga a superfície da chapa. Torno-me um objecto duplo, uma imagem do que já foi. Assim, quando me vejo, estou reduzida à categoria de natureza morta.
«Cest la photographie qui nous approche le plus dun univers sans image, cest à dire de lapparence pure Dans la photo, on ne voit rien. Seul lobjectif «voit», mais il est caché. Entre la réalité et son image, léchange est impossible. La réalité «pure», si cela existe, reste une question sans réponse»
Jean Baudrillard, «Le meurtre de limage».